sábado, 10 de outubro de 2009

Atchiiiim!!!!!!!!


A propósito deste fenómeno e da reacção produzida, Mário Ramires, do Sol, presenteia-nos com o seguinte texto, que vale a pena ler:

"Como se já não bastassem as campanhas eleitorais em marcha – para as legislativas de dia 27 e para as autárquicas de Outubro –, há uma outra gigantesca campanha em curso, envolvendo custos, material de propaganda e recursos humanos tão desproporcionados e excessivos quanto os das outras duas: a da prevenção contra a gripe A.
Com uma agravante: a campanha começou oficialmente faz meses, ganhou novos contornos com a reabertura das escolas e promete prolongar-se pelo Outono e pelo Inverno... até ver.
A coisa nem começou mal – bem pelo contrário –, com as entidades competentes a travarem alarmismos histéricos, a garantirem informação e acompanhamento permanente e a accionarem planos de resposta à medida da pandemia anunciada.
Mas daí ao exagero foi um espirro.

O ano lectivo começou esta semana, com os costumeiros problemas e mais um: esse, o da campanha contra a gripe A, eleito matéria extracurricular de frequência obrigatória e prioridade máxima. Ai do menino, mesmo do primeiro ano, que desde o primeiro dia de aulas não saiba o bê-á-bá da gripe. O resto tem tempo.
As escolas mobilizaram-se para distribuir panfletos aos estudantes e pais, trataram de arranjar salas de isolamento para os casos suspeitos mesmo quando nem para as aulas há instalações de jeito, esgotaram o stock de gel desinfectante, perderam horas de trabalho em reuniões de professores e funcionários para pôr em prática os planos de contingência.
E as normas procedimentais aí estão, feitas à medida das possibilidades e do zelo de cada um. E, por isso, variam de escola para escola.
Nalgumas, os pobres miúdos são obrigados a lavar as mãos a cada espirro ou tossidela. Noutras, os desgraçados professores são obrigados a manter em cima da sua secretária um boião de gel que cada aluno é obrigado a utilizar imediatamente a seguir à entrada na sala de aula e antes de sair para o recreio – em turmas de quase 30 alunos não é difícil de imaginar o cenário – e ainda sempre que alguém vai ao quadro e pega no apagador, no giz ou no apontador que outrem usará a seguir. E por aí fora.
Ainda está para se saber como será num jogo de voleibol, basquetebol ou andebol numa aula de educação física duma dessas escolas mais zelosas: cada jogador terá de lavar as mãos a correr depois de passar a bola?
Um absurdo é o que é. Perda de tempo e de dinheiro.
O respeito das regras básicas de higiene e alguns cuidados acrescidos são como os caldos de galinha: não fazem mal a ninguém.
Mas pensar em travar a propagação do vírus por usar e abusar de um gel desinfectante nas salas de aula é o mesmo que acreditar que o vírus também faz intervalo durante o recreio – ou os miúdos vão deixar de cumprimentar-se, beijar-se, empurrar-se, cuspir-se, embrulhar-se à bulha, de beber do mesmo copo ou da mesma garrafa por causa duma coisa chamada H1N1?
E bem podem dizer-lhes que as pessoas responsáveis guardam distância de pelo menos metro e meio em relação aos seus interlocutores – nas outras campanhas, não andam todos aos beijos e abraços nas feiras, nos mercados e nas ruas, indiferentes aos riscos pandémicos?

A prova de que tudo não passa de um excesso de zelo e descabido contra-senso é que, esgotado o milagroso gel e face à sua inexistência em algumas escolas que não deixaram de abrir, a própria ministra da Saúde veio descansar os professores, técnicos auxiliares, estudantes e pais com a garantia de que lavar as mãos com o tradicional sabão azul é, afinal, suficiente.
Tanta preocupação e tanto investimento com o raio do gel xpto e vai de lá bastavam umas barras de sabão macaco...

...E, já_agora, umas garrafinhas de lixívia. É que as nódoas na Educação e nas escolas vão muito para além dos excessos com a gripe A.
E devia fazer parte das mais elementares regras de higiene mental acabar com elas.
Cabe lá na cabeça de alguém, por exemplo, que um professor tenha um conjunto de turmas de diferentes anos com um total de mais de duzentos alunos e, destes, quase uma vintena em regimes especiais – que implicam apoio pedagógico individualizado, adaptações curriculares ou avaliações diferenciadas – e que ainda tenha de dar aulas de substituição, receber pais, fazer relatórios individuais sobre os discentes e o mais a que está obrigado? Por junto, não dá para se dedicar a cada aluno nem um dia por ano.
Já para não falar das aulas em escolas em plenas obras e em tantas outras que delas tanto precisam e nunca mais as têm ou daquela em que o amianto foi retirado das paredes e deixado esquecido no pátio.
Em final de legislatura, é natural que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues já vá lavando daí as suas mãos.
Mas as nódoas que deixa na Educação não saem com gel, nem com sabão macaco ou pedra-pomes... só com lixívia, que é receita antiga mas eficaz."

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