sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Para sempre criança diante dos teus olhos

Nesta altura terias já tentado descortinar o meu desejo de prenda de anos. Nesta altura estarias a pedir aos meus irmãos sugestões para esta filha tão exigente. Exigente e possivelmente aborrecida por deixares para o fim a compra do meu presente. [não fomos sempre os dois assim? Ou todos. Talvez a Mãe não.] E também indecisa, na escolha do melhor presente para me ofereceres. Como se fosse uma criança. Desculpa, eu sei, foi um lapso, é mais correcto assim: "como a criança que sempre fui, porque sempre permitiste que o fosse". E é isto que te agradeço, do mais fundo de mim: a possibilidade de poder ter sido sempre criança diante dos teus olhos!

(e agora, deixa-me fechar os olhos e aninhar-me contigo no sofá da sala e ouvir-te dizer: "ó filhota...")

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ontem

Ontem foi dia de sair convosco e voltei a saborear o prazer de vos ver descobrir. Descobrir pela experiência e pelo olhar. Descobrir paisagens, rostos, modos de vida. Aprender de uma forma diferente, sem as quatro paredes que nos impõem e onde diariamente nos encontramos. Vi, com um prazer difícil de descrever, o vosso olhar atento, entre conversas e brincadeiras despropositadas. Ouvir-vos questionar, procurar saber mais. E esta energia trouxe-me à memória o primeiro dia desta aventura que é ensinar. Lembrei-me de rostos e vozes dos muitos que já tive comigo, e senti uma alegria doce por poder estar convosco.
E percebi que há lições que não aprendi ainda. Nos últimos dias passei de um estado de doce alegria para um quase descontrole que me deixou muito triste, perdida e ansiosa. Tive consciência de cada um destes estados e tentei respirar fundo, pensar no que já vivi e aprendi, mas a raiva foi surgindo e alojando-se cá dentro. Quanto mais ela crescia, menos conseguia acalmar-me. Mais, tinha vontade de agredir na mesma proporção. E por mais que me esforçasse para regressar à doce alegria, a verdade é que a tristeza e a raiva se multiplicaram e eu chovia no escuro. É um facto. Há lições que ainda não aprendi. A inveja e a mesquinhez perturbam-me mesmo muito.

terça-feira, 19 de março de 2013

o livro que te fez rir

há precisamente um ano atrás comprei um livro para te oferecer. mandei embrulhar e quase me lembro de te ver rasgar o papel com algum cuidado enquanto dizias ó filha, para quê!? não era preciso. eu sei, pai. mas eu quis. vê se gostas. observaste o livro e disseste que sim. que ias gostar. lembro-me de querer ouvir da cozinha as tuas gargalhadas entoadas na sala. de te sentir aproximar para leres uma parte do livro, mas não conseguias parar de rir e seguravas a ombreira da porta com a mão. e com a outra esticavas-me o livro aberto para que eu o lesse. e eu sabia que estavas a gostar pois o teu riso não deixava margem para dúvidas. e tu insistias para que lesse a próxima história. que ainda era melhor. e eu dizia para leres tu. que depois eu lia. e tu ias corredor fora até à sala e rias mais alto porque a história seguinte era mesmo mais engraçada. e depois chamavas-me e perguntavas onde tinha eu desencantado aquele livro, como se tivesse sido um gesto de génio (o meu, não o dos autores). e eu respondia que tinha sido uma colega que mo tinha mostrado. e que eu sabia que irias gostar. e depois ficávamos um bocado a falar dos autores e a rir em conjunto.
lembro-me de tudo isto hoje, um ano depois de nada disto ter acontecido. e continuo a ouvir o teu riso.