domingo, 27 de junho de 2010

intimidades

A tese das almas gémeas é uma fraude, mas é verdade que há uma pequena percentagem de corpos incompatíveis, uma alta percentagem de corpos compatíveis e uma minoria de corpos feitos um para o outro. Quando se tem a sorte de encontrar esse corpo que se funde no nosso como o mar com o horizonte num dia de Verão, isso é a felicidade.

("Os Íntimos", I. Pedrosa)

sábado, 26 de junho de 2010

"Mái" nada

A miúda sai para trabalhar. Janta com colegas e alunos, apesar das náuseas. Regressa a casa, combalida. Volta a sair ao encontro DO grupo de risco e para quê??? Para, num ambiente de fraternidade, - já conhecido -, ouvir cantar: Ninguém te ama...como eu. (tenho para mim que a última parte foi só para suavizar).

É o que temos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

F. Pessoa

Nunca a alheia vontade, inda que ingrata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.

Uma voz na Pedra

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do
vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo
numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do
vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de
sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da
chama.
Com esta pequena centelha quero
incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total
abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e
de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o
olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul
da presença.
Não sou a destruição cega nem a
esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma
palavra.

(António Ramos Rosa)