quarta-feira, 3 de novembro de 2010

70, ontem


Não escrevi. Não verti uma lágrima. Não parei. Mas o teu rosto surgia-me a todo o momento. Sem uma única ruga. E é pena. Ainda assim, sorri-te.

medo a sério...


... apesar do esforço em não pensar no pior.

e é isto


Hoje, com os meninos pequeninos, uma miúda levantou o dedo e disse-me que a mãe era minha amiga. Eu perguntei quem era a ilustre mamã e, depois de uma rápida busca aos ficheiros mentais, vendo-me em dificuldades, a pequenina lá acrescentou que "era quando vocês eram crianças!". O nome e esta pista... E fez-se luz!!! E então lembrei-me desse tempo de adolescência (quais crianças quais quê, pois se até gostávamos do mesmo gajo idiota!). Lembrei-me que éramos um grupo enorme e surgiram-me na memória os rostos de cada um. A maior parte já não vejo há anos, é verdade. As razões são diversas. Os percursos foram diferentes. Não existem mágoas nenhumas. E, no meio disto tudo, inundou-me a doce sensação de que alguns, como tu, permanecem. E isso é tão bom.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

peças


a vida tem-nos posto muito perto nos últimos tempos. ora um ora outro, vou-me encontrando com peças de um puzzle que nos é comum. sabemos imenso e queremos saber o que nos falta. entre palavras e emoções, misturam-se abraços apertados, na esperança que se estreitem as distâncias e a vida nos dê mais tempo. entre conversas, afloram-se emoções. (só nos deixamos ir quando a dor nos rasga de forma irremediável. foi assim sempre. e ainda que se renovem os rostos, imagino que assim continue a ser.) procuramo-nos nos encontros. mesmo no mundo virtual. buscamo-nos até nas ausências. nessas horas não questionamos o sentido. sabemos como desconhecemos tanta coisa, mas basta-nos saber que continuamos em viagem. trazemos na bagagem uma história feliz e triste, certos de que, um dia, as últimas peças serão encaixadas.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

às vezes Ela dizia que...


e eu quero acreditar que sim.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

com um beijo


e pronto. hoje voltei a experimentar que custa muito mais ficar do que partir. estou contente por ti. claro que estou. a questão é que estás grande. enorme. e o mundo está à tua espera. (e eu ainda te vejo pequeno...)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

E a vontade...

que este brilho permaneça!

domingo, 12 de setembro de 2010

momentos perfeitos


e podíamos desfiar um texto infinito a propósito das horas inventadas a três. o Acordo levou letras e não trouxe novas palavras. o léxico é insuficiente.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

o céu tão azul com uma nuvem

estão quase a terminar e foram boas, muito boas estas férias! primeiro o sorriso azul do novo tesouro. os gritos de alegria e a gargalhada doce. depois quinze dias inteirinhos a desligar do mundo real e a mergulhar em mais mimos e sorrisos. quinze dias a deixar-me levar por quem já sabe pronunciar palavras só com consoantes. quinze dias a deitar-me às tantas por causa de um jogo que as fazia rir até às lágrimas. e eu adoro esse riso. quinze dias a iniciar o vício Nutella que está já a ser devidamente combatido. quinze dias a questionar-me como aguentam andar seis e sete horas... e depois o regresso, o mar, o sol, as bochechas coradas. tem sido muito bom. mesmo que sinta o coração amarfanhado com uma sms acabadinha de chegar: Tenho muitas saudades tuas!

(e ainda faltam dois dias para o regresso... bolas.)

sábado, 31 de julho de 2010

1954-2010



partiu. e eu lamento esta partida. pelo riso que provocou ao longo da sua vida, mas sobretudo pela nudez da sua luta contra esta doença e a coragem com que a enfrentou.




segunda-feira, 26 de julho de 2010

combater a neura

Algumas horas depois, duas idas ao hospital, algumas trocas de email e uma considerável camada de nervos e e o resultado foi este:

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Excelente

A notícia surgiu por email, por volta das nove da manhã, embora só a tenha lido perto das dez. Com ela, um anexo trazia um resultado há muito esperado. Abro o ficheiro e, face à leitura, a primeira impressão é de fracasso. Persegue-me esta sensação que, agora, sei absurda. Continuo a ler, num contínuo atropelo às palavras, e eis que os olhos param diante do esperado. Valeu a pena o esforço, valeu a pena a entrega e é altura de deitar para trás tudo o que contribuiu para as dúvidas que me impedem de acreditar(-me). Espero lembrar-me sempre destas avaliações, mais genuínas que outras que por aí andam, inspiradas em modelos criados em qualquer wc ministerial. Espero lembrar-me dos comentários que me voltaram a repetir o que um ilustre já o dissera lá atrás. Sempre.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

I.

fizeram-me tão bem as tuas palavras. não deves fazer ideia, eu sei, pois não tive tempo de o dizer. ainda assim, devolveste-me uma confiança perdida algures. sopraste-me a sensação dos tempos de escola com ditados sem erros e trabalhos com parabéns, assinalados no canto superior direito. bem sei que não foram apenas as palavras que serenamente me dirigiste. reconheço que terem saído da tua boca pesou bastante, e era isso que te queria ter dito quando nos interromperam.

sem som

Podia escrever inúmeras coisas. palavras em espiral permanente, umas soltas, outras acompanhadas. nem sempre com sentido. sílabas avulso, simples registos. de cheiros. de músicas. de vozes presentes, umas novas, outras de dias escritos há muito. de vozes quase ausentes, porque o coração continua a escutar-vos. podia escrever sobre os dias construídos numa casa com imensa luz, com um quarto pensado para ti e que nunca o chegou a ser. podia escrever sobre a tua ausência e sobre a tua também e ainda sobre o tamanho que isso continua a ocupar. podia teclar nos caracteres que definem a tua não-presença, que não chega a ser ausência pois que nunca aqui chegaste. ainda assim, fazes-me falta, como se tivesses chegado e depois partido. mas isso é por causa dos rostos que se disfarçaram de ti, me baralharam e me fizeram acreditar, para depois desacreditar e voltar a acreditar mais tarde. podia ainda tecer uma página qualquer sobre a amizade e repetir tudo o que já disse. pequenos tratados impressos pelo coração. peças de um puzzle que nos constrói. podia escrever sobre os momentos saboreados ao sol. sobre o riso e a gargalhada. sobre a mesa. sobre a pele. sobre o teu cheiro. mas não consigo. não me apetece. enrolam-se as palavras no estômago em conflito sem dor com vírgulas e pontos. e fico quieta até que parem e voltem a sair de forma ordenada.

domingo, 27 de junho de 2010

intimidades

A tese das almas gémeas é uma fraude, mas é verdade que há uma pequena percentagem de corpos incompatíveis, uma alta percentagem de corpos compatíveis e uma minoria de corpos feitos um para o outro. Quando se tem a sorte de encontrar esse corpo que se funde no nosso como o mar com o horizonte num dia de Verão, isso é a felicidade.

("Os Íntimos", I. Pedrosa)

sábado, 26 de junho de 2010

"Mái" nada

A miúda sai para trabalhar. Janta com colegas e alunos, apesar das náuseas. Regressa a casa, combalida. Volta a sair ao encontro DO grupo de risco e para quê??? Para, num ambiente de fraternidade, - já conhecido -, ouvir cantar: Ninguém te ama...como eu. (tenho para mim que a última parte foi só para suavizar).

É o que temos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

F. Pessoa

Nunca a alheia vontade, inda que ingrata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.

Uma voz na Pedra

Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do
vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo
numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do
vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de
sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da
chama.
Com esta pequena centelha quero
incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total
abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e
de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o
olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul
da presença.
Não sou a destruição cega nem a
esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma
palavra.

(António Ramos Rosa)

domingo, 30 de maio de 2010

aos Garridos Jr's

Ouvir o vosso riso e rir convosco.
A música.
As conversas.

Sabe cada vez melhor estar convosco, mesmo que me sinta um nadinha "cota".

terça-feira, 18 de maio de 2010

diz que sou eu


afinal a canja está muito boa (sic). eu é que não consigo saborear grande coisa.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

minúscula

e hoje senti-me minúscula. saí de casa, crescida, ao teu encontro. juntos, caminhámos em direcção ao rio e saboreámos (eu, pelo menos) a luz que torna esta cidade especial. a conversa a escorrer. eu a contar-te pormenores de um assunto tão martelado. tu a escutares. eu a dar-me conta que, por mais que o tempo passe, será sempre um tema que me traz alguma dor. e a luz a entrar pelo vidro, preocupada em aquecer-me a alma. lá fora a tua voz. a partilha de uma dor que te esforças por digerir. sem julgamentos. apenas saudade e impotência. admiro a serenidade das tuas palavras. surpreende-me. e, se calhar, foi isso que me fez sentir minúscula. ver-te embalado pela vida... eu, que nem sempre fui capaz de me deixar embalar. que bati o pé. gritei e me atirei para o chão, mesmo que isso me rasgasse ainda mais. e, depois, o almoço. a sensação de que começámos lá atrás, sem vislumbrar como seriam os anos seguintes. sem pensar onde nos levaria a aventura da nossa entrega. sem saber se estaríamos sempre uns para os outros ou se a vida nos levaria para longe. a tua boca a dizer uma palavra que não escutava há anos. e isso a recordar-me que um dia foste pequenino e muito amado nesta casa. e que eu, afinal, fui crescendo contigo, porque antes de ti e antes de mim, existia quem estivesse de braços abertos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

para ti e pelo D.

seria uma dor nova se não fosse conhecida. custa-me porque havia toda uma vida para viver. porque havia dias para saborear e outros mais difíceis. uma mão cheia de anos para crescer, para rir e também chorar. custa-me porque o abismo foi maior. custa-me porque o sabia especial ou não te seria tão importante. dói-me porque esse abismo também te tocou, porque, também em ti, a vida está só a começar. uma dor que não me pertence mas trouxe um cinzento novo, igualmente doloroso: atingiu-te a ti. e isto custa. saber que experimentas um vazio destes deixa-me sem saber o que fazer. porque não posso pegar-te ao colo e levar-te para o meio dos tons mais claros. porque não consigo gerir os dias para que os teus nasçam somente luminosos. e queria tanto. hoje especialmente. e então tive vontade que voltasses a ser pequenino e pudesse ir, de mãos dadas contigo, passear ali abaixo, observar as formigas, falar das árvores e das flores enquanto um vento suave te agita os caracóis. hoje não consigo. podia dizer-te muitas coisas. dizer-te que as pessoas que amamos não se perdem. que os olhares, o riso, a magia da cumplicidade é uma extensão da sua vida. mas sei que nada disto, hoje, será importante. sei que nenhuma destas palavras conseguirá libertar o grito que tens aí dentro. nenhuma delas será capaz de atenuar a dor. ainda assim, de mãos vazias, estou aqui.

domingo, 18 de abril de 2010

rumos

Às vezes, parece-me que vejo, com uma clarividência momentânea, as pedras que constroem o meu caminho. Como um flash, que dispara sem aviso, e me permite ver e não apenas olhar. Hoje tive um desses momentos. No meio de tantas vozes estranhas, em corredores enormes, entre paredes erguidas que os séculos permitiram trazer de pé, um breve disparo de luz iluminou o que tenho sob os pés. E percebi que me encontro a percorrer uma estrada que pensei já percorrida, embora saiba, racionalmente pelo menos, que as estradas são diferentes entre si. Compreendi que nada está concluído e que a vida é um constante recomeço. [Foi sempre assim convosco. Por que razão seria diferente comigo?]. Percebo agora a necessidade de construir e a premência de um entusiasmo e de uma esperança que não tenho encontrado dentro de mim, ainda que me sejam tantas vezes soprados pelas vozes que me acompanham desde há muito e pelas que se cruzam e se fazem companheiros de viagem. Nas marés que me pertencem, vejo-me ora a nadar ora a boiar, sem vontade de contrariar a corrente.
A., lembro-me que, naqueles momentos em que, com paciência, tentavas ensinar-me a tua ciência, dizias que há diferentes tipos de maré e que sabias sempre quais as que trariam mais peixe. Ainda assim, levantavas-te firme, madrugada após madrugada, e partias para mais um dia no mar. Regressavas, por vezes, feliz e orgulhoso. Outras vezes, via-te chegar de rosto carregado, zangado mesmo, de bolsos vazios, enquanto depositavas sobre a mesa o peixe para esse dia. Lembrei-me disto a propósito das correntes das minhas águas. Lembrei-me, porque, na densidade da noite, vi um clarão que me mostrou um mar enorme à minha frente. Um mar agitado. Sobre ele, dança a minha barca, em dias curtos e noites enormes e silenciosas.

Sabes como lamento não ter aprendido quase nada da tua ciência. Não sei reconhecer quase nenhuma maré nem distinguir os ventos, a menos que seja a óbvia "nortada". Só consegui aprender a remar e a nadar e sei que isso me basta.

sexta-feira, 19 de março de 2010

alunos e mestres

Eu tenho um aluno crescido. Muito crescido. Um aluno que, em Setembro, se sentou nas cadeiras dos mais novos para me ouvir. Disse-me que queria aprender mais. Observei-lhe as rugas do rosto, os poucos cabelos brancos e enchi-me de ternura, ainda que tivesse a certeza que deveríamos inverter os papéis. Percebi-lhe, nas aulas, uma atenção invulgar, enquanto me ouvia. Bebia cada palavra com a avidez de uma criança de seis anos. Quando falava (poucas vezes) deixava a descoberto a humildade daquelas pessoas grandes, enormes. O meu aluno já acabou de aprender aquilo que as normas definiram. Levantou-se e abandonou a cadeira da sala onde nos encontrámos nos últimos meses. Mas, antes de partir, disse-me que é um rafeiro alentejano (palavras suas), que a vida moldou, magoou, agraciou e fez crescer. Disse que nasceu duas vezes. Disse que sabia o caminho que tinha de percorrer, mas que tinha ainda de melhorar muito. Disse que aprendeu muito ao longo dos seus 62 anos. Disse que aprende com os netos como aprendeu com o seu avô. O meu aluno já não é meu aluno. Creio que nunca o foi.
(O meu aluno crescido diz que aprender é uma luz que lhe ilumina o caminho e lhe permite olhar as cores bonitas da vida.)

terça-feira, 16 de março de 2010

tão bom ouvir isto... a qualquer hora

ti vollo bene anche io grande amica mia.

segunda-feira, 8 de março de 2010

reencontro

na previsibilidade das horas que escorrem, do desencontro das chamadas, oiço-te finalmente. e, porque connosco as coisas construiram-se sempre com impulsos e vontades, sentámo-nos à mesa para jantar e preencher com palavras os anos de ausência. risos, palavras evocadas e repetidas como se assim pudéssemos recuperar os momentos, construir os cenários... emoções à flor da pele. lágrimas, porque a vida transforma-se mas o coração continua a sentir e isso sabe tão bem. às vezes é só necessário que, do balão, se liberte um bocadinho do ar em excesso, mesmo que o mote seja uma manobra virtual.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

luz


(Albino Moura)

A morte é a curva da estrada

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

(F. Pessoa)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

...

não consigo escrever. quero. inicio. apago. porque nenhuma letra consegue trazer à luz do dia o que quer que seja, ainda que se faça acompanhar por outras tantas em busca de um sentido. talvez seja isso. a falta de sentido para esta sensação que vieste trazer: afinal tudo é solução. há sempre uma saída. e esta constatação dói, porque talvez seja preferível viver nos círculos das lamentações, pois que a isto nos habituámos desde sempre, ao invés de assumir um caminho que se quer, independentemente de tudo o resto.
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e dizes da escrita que podia ser, porque há matéria-prima, mas a tempestade contida não permite uma única gota, quanto mais a fértil produção de palavras. há terra suficiente para plantar, mas é uma terra privada. propriedade das memórias que ali se encenaram.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Aos interessados...

oferece-se otite... com direito aos medicamentos!


sábado, 9 de janeiro de 2010

queria...

eu queria aqui deixar palavras e votos bonitos para o novo ano. eu queria (ou, se calhar, não) ter feito o balanço do ano que larguei para trás (mas os balanços recordam-me contas e as contas recordam-me .... enfim...). na verdade, o que queria era ter vontade de escrever mais. de aqui colocar como foram ternas as horas passadas com as fadas dos sorrisos doces, mesmo quando a noite ia avançada e o seu sono tardava em chegar (ao contrário do meu). eu queria era dar forma verbal a estes laços que me prendem àqueles olhos, ao seu riso, e conseguir a façanha de os tornar palavra. eu queria saciar-lhes a vontade dos beijos de despedida e da necessidade da pele. eu quero aqui continuar. aguardar o próximo regresso para, soltas, nos perdermos no riso, alheias às horas e ao sentido das coisas.