sexta-feira, 27 de março de 2009

Combates

Palavras atiradas ao acaso, numa conversa de circunstância. O cansaço a obrigar-nos ouvir cada palavra com uma atenção assustadora. E depois o eco a martelar, porque há palavras pesadas que nos atiram na arena das dúvidas e do tempo.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Da pele

E quando um cheiro recupera a memória de outro cheiro?

segunda-feira, 23 de março de 2009

Voa, voa


Há pouco Alguém me disse que, sábado passado, comemorou-se o Dia Mundial da Poesia. Não me lembrei, confesso. Aliás, lembrar é algo que vou fazendo menos a cada dia que passa. É impressionante como o trabalho ora nos enche ora nos esvazia. Decidi, então, navegar em busca de poemas que gosto e de outros que esperam o meu gostar. Encontrei vários: uns fazem já parte deste espaço, outros aguardam uma ocasião especial, pois a Poesia é, nesse aspecto, semelhante à música e aos cheiros, perpetua os momentos. De poema em poema, o meu pensamento lá voou até aos rostos de bochechas doces e, rapidamente, a recordação dos sorrisos tornou-se música.


O SORRISO

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
(Eugénio de Andrade, O Outro Nome da Terra)

zzzzzzzzzzz


... acho que estou a precisar de dormir um bocadinho...

Sempre a aprender

Afinal Robespierre saiu de Portugal e foi até ao Brasil, pedir dinheiro a Napoleão. Vai daí os liberais, aproveitaram a ausência e fizeram a revolução de 1820.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Perto


pé ante pé, bem devagarinho. sem fazer barulho. quase imóvel. como quem tem medo de acordar o mundo. como quem não quer despertar memórias. shiuuu. venho só aqui, bem devagarinho, como se caminhasse sobre areia. quase pézinhos de lã. a caminho da sala. entro, olho-te e vejo-te sentado no sofá, com o comando na mão e os olhos fechados de cansaço. devagarinho. mesmo devagarinho. sem respirar, desligo a televisão. dobro-me sobre ti e entrego-te um beijo na ruga das eternas preocupações. os meus lábios na tua testa e o coração, apertado, a dizer baixinho... feliz dia!


Hoje tenho-te aqui, mais juntinho ainda.

terça-feira, 17 de março de 2009

nas ondas


O coração aos pulos. A ansiedade, inicial e aparentemente, controlada. Os ritmos que nos alteram por dentro ainda que não queiramos. A vontade de não querer deixar que ondas agrestes interrompam os dias que são nossos e as horas que os encerram. A teimosia de querer perpetuar os momentos doces, partilhados na companhia de quem enche a vida, e trazê-los sobre as ondas, a salvo, para que só eles flutuem. O coração agitado a desejar-se sereno. Uma voz cá dentro, felizmente, a repetir "Vai correr bem. Vai correr tudo bem!" . E eu a insistir que sim, porque basta de marés negras. Quero água cristalina e renovadora.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Março

Março é o teu mês. Ainda que longe, será sempre o teu mês. Ainda que apenas oiça a tua voz, Março é o teu mês. Tenho vontade de ir ter a tua casa esta noite. Jantar contigo e festejar a tua vida. Entrar e sair da cozinha com as peças que preencherão a mesa. Tenho vontade de te dizer o quanto gosto de ti. O quanto te quero bem. Tenho vontade de te dizer que te desejo o melhor do mundo. Tenho vontade de te agradecer os pequenos rostos que saíram de ti. O riso e os olhares que te prolongam e renovam. Março é o teu mês. Tenho vontade de me perder em conversas contigo, ouvir-te contar as experiências que vives e que te estão a fazer crescer ainda mais. Partilhar o crescimento das princesas e rir com as frases, os gestos, as brincadeiras de cada uma delas. Tenho vontade de te agradecer a presença cheia que tens sido nos momentos mais importantes da minha vida. A preocupação em me fazeres acreditar que existe uma rede por baixo da corda em que tantas vezes me equilibro. Vontade de agradecer a presença discreta que não me deixa desistir, quando as forças escasseiam. Vontade que o tempo passe depressa, para que possamos estar mais perto. Vontade de te dizer que me fazes falta, mas tu sabes, como eu sei que também o sentes. Meu Amor, muitos, muitos parabéns!

domingo, 15 de março de 2009

Momento de Poesia


Eu dizia:
"nenhuma brisa é triste",
e procurava água, lábios,
um corpo
onde a solidão fosse impossível.

Mas quem sabe dessa música cativa nos meus dedos?
E depois, como guardar um beijo,
mar doirado ou sombra
desolada?

(...)

Como quem se despe
para amar a madrugada nas areias,
eu dizia: "nenhuma brisa é triste,
triste", e procurava.
E procurava.
(Eugénio de Andrade, Ah, falemos da brisa.)


Amar-te-ia se viesses agora
ou inclinasses
o teu rosto sobre o meu tão puro
e tão perdido,
ó vida.
(E.A., Matéria Solar)

E se de repente...

alguém vos dissesse que...
  • nos anos 20, as mulheres começaram a frequentar casas de má vida;
  • a cultura de massas era quando as pessoas tinham muita massa para comprar coisas;
  • a forma como se deu uma cultura de massas foi que começou a haver a rádio, o telefone, o frigorífico, a máquina de lavar (!);
  • um pintor cubista é um movimento que exprimia as emoções humanas;
  • no fim do séc. XIX e início do XX ainda havia a 1ª guerra;
  • o autor da Teoria da Relatividade foi o Freud;
  • Fleming foi um grande pintor cubista...

...

(só um bocadinho que vou ali buscar uma laminazita...)

sexta-feira, 13 de março de 2009

será oficial?


eu já sabia. sim. sabia. mas a malta acha que ainda tem vinte anos... (e os 25 já cá cantam!;) sabia que, especialmente este ano, não dá para sair do ritual trabalho/casa/trabalho mais do que uma vez por semana. mesmo que seja por um simples jantar. vem o cansaço. os olhos a fecharem-se e o corpo a implorar caminha ;). dormir três horas não é para mim. aliás, dormir as aconselhadas 8 horas também não é para mim. eu preciso de 10. acordo outra. bem disposta e de bem com a vida! prontinha para os desafios de cada momento. teria muito mais produtividade se entrasse todos os dias às 11 e saísse às 17. era ver-me, depois, a trabalhar em casa com afinco! tudo isto eu já sabia. o que eu não sabia era que iria acordar espontaneamente às 6 da matina, três horas depois de ter estendido o corpinho na cama. o que eu não sabia é que, um dia, iria acordar de madrugada, sem recurso a despertadores, e não conseguir voltar a pregar olho. o que eu não sabia é que era capaz de pensar tanto e tão depressa, enquanto o galo de Leiria canta (sim, porque ele está lá, certamente, a cumprir o seu ritual, embora não o oiça. um galo é um galo). parece-me oficial. a velhice chegou. precocemente, claro. p.....a!!!!

Só para dizer...


... pelo jantar
... pela boa disposição
... pelo riso
... pelos comentários sórdidos que tão bem nos fazem
... pela saborosa sensação de parecer fim-de-semana
... obrigada até pela reacção imediata (mas não combinada) em gritar com a mocinha, coitadita, que amanhã já deve estar a embarcar...




quarta-feira, 11 de março de 2009

desassossego

Na Floresta do Alheamento
Sei que despertei e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu viver diz-me que é muito cedo ainda... Sinto-me febril de longe. Peso-me, não sei porquê... Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego.
Salvador Dali, O Tempo

uma noite mal dormida, interrompida por toques, quase horários, de despertadores que, certamente, se descontrolaram e me surpreenderam um sono já de si nada tranquilo. tudo, porque pensar demais me faz mal, principalmente à noite.

segunda-feira, 9 de março de 2009

And the oscar goes to...



Depois da questão do Menino de Belém/Restelo (diz que vendeu o ouro e comprou uma casinha para aqueles lados), do analfabetismo obrigatório, do clister (!), e a propósito de muitas outras que a miudagem diz, que nos levam ao desespero e às lágrimas (de riso para não chorar!), eis a vencedora do último Óscar:


Pergunta: Em quantas partes se divide a Bíblia?
Resposta (do Einstein lá do sítio): Em várias, e com uma fitinha vermelha...


Nota: Foram reservadas horas de riso para todos os que precisarem...

Há dias


Há dias assim. Final da semana brindado com uma emoção de ir às lágrimas: a prestação da casa baixou, finalmente! Deus é Pai e deu uma sacudidela na madrasta Euribor que me andava a perseguir há anos! Não tinha um sino para tocar (como no dia em que falámos do assunto, à mesa com o M. e outros amigos), - também, não acho que ficasse bem um sino no Cascais Shopping-, mas garanto que, cá dentro, gritei de emoção... Depois o sábado, com trabalho pelo Património, que o vício é mais forte que eu, e lá rumei para Sintra, onde me esperava a Regaleira, maravilhosamente envolvida numa atmosfera de mistério. Horas depois o IC19 ao contrário, as tarefas domésticas, o tempo a escorrer ao telefone enquanto repensava naquela gentinha pequena e mesquinha. O fim de tarde acabou por chegar pesado. Carregado de recordações pouco saborosas mais a mania de pensar e escalpulizar tudo... Não tardou muito e tinha o mundo às costas. "Não. Vou ficar em casa. Falta-me ânimo e tenho m.......s para fazer." Que não. Que é rápido. E faz-te bem e anda lá. E fui. E foi bom. E o peso que carregava suavizou-se. E o riso aliviou a tensão. E fez-me bem. E não é que depois trabalhei bem e até ao dia raiar? E dormi bem, embora acordada pelo telefone e uma voz: "Antes de mais nada, parabéns pelo dia da mulher!" Pelo amor da Santa, não me digam isso!!! POR FAVOR! Prontes! [impõe-se, neste contexto] Passou! Volto para casa e saio novamente. Com o sol que iluminou o dia, não resisti e fui fazer a fotossíntese.

quinta-feira, 5 de março de 2009

a propósito da essência

diziam vocês que a essência é a mesma. que há coisas que não mudam. que é cansaço. talvez. de qualquer modo, para ti a quem a vida já trouxe mais experiências, sabes bem que que os dias nos transformam. que as amarguras nos entorpecem e, quando levantados, endurecemos a pele onde o embate se deu. e, por baixo da pele, também o músculo ficou mais rijo, preparado para qualquer eventualidade. depois, apesar da preparação, há novos embates que surgem surpreendentes, pela força, pela profundidade dos estragos. e por baixo da pele, soma-se mais rigidez. a essência será a mesma? permanece o riso, a eterna gestão das horas, numa luta pela sobrevivência que empurra sem clemência. permanece o prazer de estar convosco. permanece (até quando?) a capacidade de luta. sim. há coisas que permanecem. mas, quando a memória evoca os dias em que a esperança era o mote e a vontade de amanhecer, uma melodia permanente, ficamos com a certeza que o medo, a dor e as chuvas esvaziaram, para sempre, um qualquer hemisfério da nossa alma.

Ainda tu

ainda que saiba que tudo correu bem. ainda que me digas que não tens dores. ainda que me sossegues e garantas que é só uma ligeira impressão... custa-me muito ver-te lacrimejar. põe-te bom, pois prefiro o teu humor vivo a essa dormência.

(a propósito, quero saber que miúdas eram aquelas, no portão, àquela hora da noite... agora que estou mais perto, estás lixado!)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Human

I did my best to notice
When the call came down the line
Up to the platform of surrender
I was brought but I was kind
And sometimes I get nervous
When I see an open door
Close your eyes
Clear your heart

Cut the cord
Are we human?
Or are we dancer?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answer
Are we human?
Or are we dancer?

Pay my respects to grace and virtue
Send my condolences to good
Give my regards to soul and romance
They always did the best they could
And so long to devotion
You taught me everything I know
Wave goodbye
Wish me well

You got to let me go
Are we human?
Or are we dancer?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answer
Are we human?
Or are we dancer?

Will your system be alright
When you dream of home tonight?
There is no message we're receiving
Let me know is your heart still beating

Are we human?
Or are we dancer?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answer

You've got to let me know
Are we human?
Or are we dancer?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answer
Are we human
Or are we dancer?

Are we human?
Or are we dancer?

Are we human?
Or are we dancer?

The Killers
Composição: Brandon Flowers / Dave Keuning / Mark Stoermer / Ronnie Vannucci Jr.

terça-feira, 3 de março de 2009

coração apertado

... para que fiquem bons depressinha!!!

Ai... Porquê que se sente o coração apertado mesmo quando a razão nos diz que a cirurgia é "simples"? Porquê que não vos consigo ver crescidos e, sobretudo nestas alturas, me apetece ir a correr dar-vos colo e dizer que vai passar e tudo vai ficar bem? Ai que me lembrei de quando fui, com a Titi, ter com os teus pais ao Hospital, porque os médicos achavam que talvez tivesses uma meningite. Ai... pequenino, fica bem, sim?!
Porque é o coração tão frágil?...

domingo, 1 de março de 2009

Piadinha...


E, de repente, só para o dia ficar ainda mais perfeitinho, oiço do lado de lá a voz da Fada Pearl:
Olá!
Já estás deitadinha, meu amor ?
Sim!
A tua Mi e o J. andam para aqui às cambalhotas!
[o riso a fazer-se ouvir, solto e leve...]
Estás melhor do pé, ainós?
Desculpa? Não percebi, Ternura! Podes repetir?
Estás melhor das dentadas da Mi no pé, ainós?
O que significa ainós? É polaco?
Não! É o teu nome ao contrário!
[e a gargalhada toda solta agora...]

É que nem comento...
[Há brincadeiras que não devia inventar se depois nunca mais me lembro delas...]

Hoje o Sino tocou em Alvados


Hoje foi dia de festa. Dia de estar com gente que é nossa. Festa para um rosto miúdo de sorriso grande. Foi dia de partilha. Foi dia para rever, rir e conversar. Foi dia só para estar. Foi dia para mostrar aos outros os sinais e os símbolos de alianças que já existem. Alianças feitas em horas partilhadas nos corredores de uma escola que foi bonita, nos passeios, nos jantares, nos telefonemas e no messenger. Laços construídos, ao sol e à sombra, e partilhados com o Menino do Sorriso Doce, quando ele era ainda apenas o princípio do sorriso. Hoje foi dia de ouvir o Sino tocar e pensar que o mundo continua a ser um lugar bonito para se viver. Obrigada M. por esse sorriso, pelo olhar atento, pelas turras e segredos, pelas mãozitas no ar assim que ouves uma melodia. Obrigada, mesmo.

a duas vozes


Tudo bem? Não.
Não estás contente? Não.
Foi assim tão mau? Foi difícil.
Mas queres outra coisa? Sim.
E vale a pena sentires-te assim? Nem sempre me pergunto se vale a pena sentir isto ou aquilo. Sinto e pronto. Já me conheces um bocado.
E há alternativas? Neste momento, não me parece, mas isso não impede que me sinta rasgar por dentro quando... bem, tu sabes.
Se quero mais? Com certeza!
Se é justo? Talvez não seja, mas quero, ainda assim.
Se já olhei à minha volta? Já. E lamento. Mas isso não minimiza a sensação de invasão...
Se tenho certezas? Sabes que não.
Se estou arrependida? Também não.
Se podia ter sido diferente? Vale a pena pensar nisso? Não creio. De qualquer modo, acredito que foi melhor assim.
Se sei o caminho a seguir? Não sei se alguma vez soube. Muitas vezes, foi a Vida que me empurrou. À força de tanto querer saber o que fazer, de tanto querer ter os pés na terra, os dias nasciam, repentinamente, com cenários diferentes. Procuro não fazer muitos planos.
Se gostei do que construí? Muito.
Se acho que tudo acabou? Tudo não, mas as páginas são viradas e são-me sempre difíceis as separações. De qualquer modo, venham daí mais dias e noites para viver.
Se acho que tenho sorte? Sim. Muita.
O que mais me incomoda? Esta sensação de invasão. Que queres? Sou assim. Prezo o que conquistei e respeito cada peça conquistada com esforço.
Se tenho vontade de gritar? Ui. Tantas vezes... Já terminou o questionário?
Ainda me apetecia conversar mais um pouco.
Não sei se isto é bem uma conversa...
Aborreci-te? Não, mas confesso que estou cansada. Importas-te que conversemos amanhã?
Tudo bem.