segunda-feira, 30 de junho de 2008

sábado, 28 de junho de 2008

transparências

Ando. Recuo. Avanço. Por vezes, sem sentido e sem nada ver à minha frente. Não sei quase nada. Caio e levanto-me, vezes sem conta, num mecânico instinto de sobrevivência. Canso-me e, no meio deste cansaço, surge-me o teu rosto, agora sereno. E o teu, também. Ambos sem sombras de qualquer tormenta. Tento descortinar qualquer coisa nesses olhares demasiado etéreos. Posso inventar mil palavras. De qualquer modo, já não questiono muito. Cansei-me das perguntas sem resposta. Mas dentro de mim, sabemos que ainda estoira aquele grito mudo. E até o frio daqueles domingos desperta, por vezes. Hoje estou assim, vazia de esperança. E fico de cabeça erguida e olhos presos nos vossos, agora distantes. ou talvez não.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Sweet babies


E fico assim, esquecida do tempo, quando vos oiço e vos vejo. Rimos. Por nada. E por tudo. Reparo em cada madeixa de cabelo desalinhado. Descubro as diferenças e cada sinal de mais um dia do vosso crescimento nessa maravilhosa fase que é a infância. Peço-te que cantes e oiço-te, inebriada. Os minutos voam. E depois, dirijo-me a ti e iniciamos mais uma viagem na imaginação: viagens de fim-de-semana, locais paradisíacos e depois as eternas declarações de amor. "I love you more and more and again and again." And I love you more and miss you very very much, digo eu. Ok. Amamo-nos e isso nos basta. O relógio continua. Só vos vejo a testa, adoro-a, mas levantem a cabeça que quero ver-vos o rosto!Mais novidades. Pergunto. Respondem-me e, nesse entretanto, tomam banho e jantam. Ora uma, ora outra, mas tenho-vos sempre diante de mim. Fazemos planos para as férias: praia, piscina, dinossáurios, e mais isto e mais aquilo. Prometo-vos as cócegas. Risos. Os minutos. Falamos há mais de uma hora. Não janto. Fico sempre assim convosco... esquecida do tempo, frágil mas a explodir de cor!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Beijo


Gustav Klimt

Canção do Caminho

Por aqui vou sem programa,
sem rumo,
sem nenhum itinerário.
O destino de quem ama
é vário,
como o trajeto do fumo.

Minha canção vai comigo.
Vai doce.
Tão sereno é seu compasso
que penso em ti, meu amigo.
- Se fosse,
em vez da canção, teu braço!

Ah! mas logo ali adiante
- tão perto!-
acaba-se a terra bela.
Para este pequeno instante,
decerto,
é melhor ir só com ela.

(Isto são coisas que digo,
que invento,
para achar a vida boa...
A canção que vai comigo
é a forma de esquecimento
do sonho sonhado à toa...)

Cecília Meireles

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos

Já não se encantarão os meus olhos em teus olhos,
já não se alcamará junto a ti a minha dor.

Mas para onde for levarei teu olhar
e por onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. Que mais?
Juntos fizemos uma curva na estrada onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Serás do que te amar,
do que em teu horto corte o que só eu semeei.

Parto. Estou triste: mas eu estou sempre triste.
Deixo os teus braços. Não sei para onde vou.

... Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

Pablo Neruda



Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

Lua adversa



Tenho fases, como a lua.

Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua)

No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles

terça-feira, 24 de junho de 2008

Visita de Estudo. 24 de Junho 2008


As ruas. A calçada. As paredes caiadas e, ali adiante, virada para o Tejo, as buganvílias a explodir de cor. O Poeta da epopeia, serenamente. E depois um castelo, plácido, a manter a História acordada. Almorolan. E comigo, as vozes. Alguns sorrisos. A beleza de quem pisa este chão pela primeira vez. O encanto de quem regressa. O barco na água. O castelo a ficar para trás. As vozes. Explico. Chamo-os, sabendo que a voz me vai doer. Adiante. Um piquenique. Grupos que se formam, naturalmente, como a amizade. A partilha. (que belos croquetes!!!) Seguimos. Entramos. Os olhos a percorrer cada pormenor. A curiosidade a levar-nos para a frente. Perguntas. Risos. A descoberta. Esclareço e também pergunto. Sempre fui curiosa. Felizmente. E depois, o pé ao caminho. As pedras. A água. E uma voz que nos guia e orienta. Mais passos e o sol sobre a cabeça. Reclamações. Claro! Calor e já algum cansaço. Comigo não se safam. Toca a andar! "Sai daí!" "Não vás para aí!" "Desviem-se!" "Oiçam!" Se calhar sou mesmo chata... Continuamos. Assalta-me a dúvida: será que eles estão a aproveitar cada palavra nova? Cada descoberta? Depois de fingir que atravessámos milhares de anos em direcção ao passado, depois de voarmos para o espaço, mergulharmos nas águas e nos pendurarmos em grutas, - a partir de hoje vou respeitar bem mais os morcegos -, vamos então, desta vez de verdade, mergulhar na História. Não a dos homens, mas a da Terra, quando o homem ainda não a tinha pisado. Olho os vestígios que a pedra insistiu em deixar-me. O vento que sopra leva-me nas asas da imaginação e, - juro!-, vejo aqueles seres, de pescoço longo e respeitosa altura, a pisar a rocha num tempo em que a paisagem era certamente um nadinha diferente! Falo dos Saurópodes. O tempo escasseia. Volto à realidade. É hora de regressar. Reclamações... No comments. Explico, mais uma vez, agora sem tanta paciência... embora com o mesmo empenho. Afinal, tenho-os comigo. São eles, por mais que me doa a voz e me fuja a paciência, que me fazem sentir bem naquilo que faço.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Há palavras

Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill

Também partilhei esse momento que me atirou lá para trás e, - mistério isto da emoção -, também me empurrava para a frente. e no meio de tantos solavancos, a música, eterna e ritmada, como se nunca tivesse partido. e nunca chegasse tão vazia. os olhos fechados. a saudade, sempre intensa, doce e, às vezes, cruel, das horas felizes que não o sabiam. o coração a explodir, mas sempre a impedir os olhos de o dizer.

Lisboa


calçada. ruelas. muralhas. roupa estendida e riso de crianças. homens e mulheres. o cheiro. o rio. a música.
Junho e o ano todo.

não me interessa o nome


E nesta saudade que me parte toda por dentro, ainda consigo ver-vos a rir. e parece que oiço um suave timbre semelhante ao que ouvia diariamente na certeza estúpida de que nunca me faltaria. Absurda esta certeza.

e depois outra saudade. do que voltará um dia, para continuarmos a rir e eu a ver-vos crescer e a continuar o sangue que é nosso.

Basta


que a raiva se esgote e não mais me consuma. se escoe. segue. parte e deixa-me em paz no que resta que seja. sai. desaparece. liberta-me. de uma vez.