O telefone tocou cedo demais. Passava pouco das duas da madrugada quando vi o nome do teu amor no visor do meu telemóvel. Do outro lado, não ouvi a sua voz. Não repito as palavras da voz que me falou, porque não sou capaz. Sei apenas que desliguei para de novo atender e voltar a ouvir as mesmas palavras que não consigo repetir.
Fizemos tudo o que os amigos fazem. Conversámos horas a fio sobre tudo o que nos moldou. Rimos intensamente apenas porque tivemos vontade. Com a mesma intensidade, deixámos o sal escorrer pelo rosto e, em abraços de esperança, secámos as lágrimas para cada recomeço. Cantámos à tua janela, com uma vassoura a fazer de microfone, numa quaquer noite em que o meu regresso a Lisboa tinha paragem obrigatória junto a ti. Dissemos o quanto éramos importantes na vida uma da outra. Ouvi de ti sempre a verdade, a que me soube bem e a que me fez crescer. Partilhámos segredos, olhares, fragilidades, às vezes apenas o silêncio. Sei que fizemos tudo o que os amigos fazem. Acredito nisto com uma certeza inabalável. E, com a mesma força, sinto que muito gostaria ainda poder construir contigo.
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