segunda-feira, 19 de julho de 2010

sem som

Podia escrever inúmeras coisas. palavras em espiral permanente, umas soltas, outras acompanhadas. nem sempre com sentido. sílabas avulso, simples registos. de cheiros. de músicas. de vozes presentes, umas novas, outras de dias escritos há muito. de vozes quase ausentes, porque o coração continua a escutar-vos. podia escrever sobre os dias construídos numa casa com imensa luz, com um quarto pensado para ti e que nunca o chegou a ser. podia escrever sobre a tua ausência e sobre a tua também e ainda sobre o tamanho que isso continua a ocupar. podia teclar nos caracteres que definem a tua não-presença, que não chega a ser ausência pois que nunca aqui chegaste. ainda assim, fazes-me falta, como se tivesses chegado e depois partido. mas isso é por causa dos rostos que se disfarçaram de ti, me baralharam e me fizeram acreditar, para depois desacreditar e voltar a acreditar mais tarde. podia ainda tecer uma página qualquer sobre a amizade e repetir tudo o que já disse. pequenos tratados impressos pelo coração. peças de um puzzle que nos constrói. podia escrever sobre os momentos saboreados ao sol. sobre o riso e a gargalhada. sobre a mesa. sobre a pele. sobre o teu cheiro. mas não consigo. não me apetece. enrolam-se as palavras no estômago em conflito sem dor com vírgulas e pontos. e fico quieta até que parem e voltem a sair de forma ordenada.

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