“Cativar” quer dizer o quê?
É uma coisa que toda a gente se esqueceu. Quer dizer criar laços.
Por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Mas, se tu me cativares , passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti…
Sabes, há uma certa flor… tenho a impressão que ela me cativou…
É bem possível. Vê-se cada coisa cá na Terra…
Só conhecemos o que cativamos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
Que é preciso fazer?
É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
(...)
Teria sido melhor voltares à mesma hora. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estaria inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
Que é um rito?
É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.
(…)
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…
Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa importante.
Ficas responsável para todo sempre por aquilo que cativaste.
(adaptação do texto de Antoine de Saint-Exupéry, "O Principezinho")
Hoje pensei em vocês. Aliás, penso em vocês praticamente todos os dias. O vosso rosto aparece-me com frequência. Sentados à minha frente ou diante de um computador, numa sala minúscula onde os laços foram crescendo até alcançarem o coração. O Exupéry tinha razão...
Fazem-me falta. As perguntas. O riso. A vossa autenticidade. As cadeiras a arrastarem-se. (Um barulho que eu insistia em combater). A vossa criatividade a crescer e a enriquecer-me por dentro. As reclamações. A curiosidade a bombardear-me. A certeza que temos quando sabemos que já nos conhecem.
Pergunto-me vezes sem conta como estarão . E nesta ausência de respostas, quero acreditar que tudo ficará bem.