segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A Viagem


Viajar na tua companhia é sempre um privilégio. Na sexta-feira não foi diferente. Depois de um dia de trabalho, cansados, comentávamos esta constante que tem feito parte da nossa vida: as mudanças, - ora suaves, ora avassaladoras -, as pressões e o sono, que insiste em marcar presença. Depois de um jantar de plástico ;), entre piadas e algumas partilhas do dia-a-dia, metemo-nos à estrada. A música envolveu-nos a conversa. As miúdas. A tua bicicleta nova. A luz misteriosa no céu e, por consequência, a infância. Os tiques e expressões que vamos reconhecendo e nos fazem rir... E pronto, já lá estávamos os 5. Invariavelmente Eles começaram a fazer-se presença. Primeiro, Ela. A manhã ensolarada. A festa tornada lágrima. Tu tão novo. Nós todos tão perdidos. Como uma tela branca, a noite passava o filme com todos os pormenores. A tua mão a apertar a minha. O sal a nascer-nos no rosto. [Já passaram alguns anos, e parece que foi ontem.] As mãos a apertarem-se com mais força. A troca das sensações que se escondem sem que nos apercebamos. Algumas mágoas. E, depois, a imagem do Homem que segurou o barco no meio da tempestade e se fez Ele próprio porto seguro. A força vertical de quem não se abate. A injustiça de não ter havido tempo para sermos nós a cuidar, a segurar o leme, a fazermos surpresas. Este sabor amargo a subir à garganta. O Homem que se fez árvore e estrada. O Homem onde pudemos reerguer alicerces e acreditar que um dia havíamos de voltar a rir. E voltámos, porque acreditar na Vida, e em nós, foi a maior das heranças. O Homem que guardou a dor para si para consolar a nossa. [O sal a fazer-se ouvir.] O Homem que partiu sozinho. [o sabor amargo outra vez]

E, no meio de tudo isto, uma alegria suave a iluminar a noite. Esta partilha. Porque no meio de tudo isto, lá nos vamos encontrando, para renovar a promessa desse outro domingo, em que, na sala da Nossa casa, de mãos dadas, nos lembraste que é preciso continuar a SERMOS.

Um beijo doce. Obrigada por esta noite.

1 comentário:

A disse...

Gosto tanto de te ler, mesmo com uma lagrimita...