domingo, 1 de fevereiro de 2009

Palavras para Ti

Já passaram mais de dez anos, mas sempre, por esta altura, encho-me mais de Ti. Os foguetes bem podiam estoirar no céu a minha raiva, já que a música, que ecoa nas ruas, continua a esvaziar-me. Experimentei não estar aqui nestas alturas, mas logo descobri que não importa o lugar onde estou. Tu estás, esteja eu onde estiver. O frio daquele domingo, que era para ser de festa, deu lugar a uma saudade, com a qual procurei viver para não cair num abismo, tal o vazio que senti. Lembro-me perfeitamente da roupa que vestia. Lembro-me de sentir que não devia sair, e, por isso, ao fazê-lo, não estava fora, mas dentro. De tal forma, que te ouvi chamar. E voltei. Não consigo lembrar-me desses dias, sem que o nó se forme de novo na garganta. Sabes que sempre lutei por Ti, mas nos últimos tempos, percebias o meu cansaço e isso irritava-me, porque não queria baixar os braços. Mas a esperança traía-me. A raiva de não conseguir vencer aquilo que te arrancava de nós. Um desespero de não poder tomar o teu lugar. A incapacidade de pensar uma vida sem Ti. A sensação de já não ser inteira. De ter perdido uma parte. A dor a corroer, a corroer. A vontade de desatar a correr e a gritar que não, que não! A avisar o Deus Todo Poderoso ou a Vida que ainda precisava de Ti, da tua mão, das tuas palavras sábias. A sensação de estar a correr contra a maré, desesperada, exausta, a implorar que o Mundo fizesse o mesmo, porque haveríamos de conseguir. E, ao fim do dia, exausta, adormecia com o desejo secreto de despertar do pesadelo. O desespero a tomar conta de mim na última noite em que conversámos. A implorar-te o que não estava nas tuas mãos, mas que eu queria que estivesse, já que não estava nas minhas. Afinal, tiveste sempre a capacidade de nos proteger do que era mau. Não queria ver-te frágil. E o pior de tudo era confrontar-me com a minha finitude perante a tua fragilidade. Que sim, que te salvo, que não te deixo só. A força que me enchia por dentro não conseguiu desviar o rumo dos acontecimentos. E depois os dias que se seguiram e, com eles, a necessidade de aceitar os meus limites, de compreender que o nosso Amor é infinito mesmo que a Vida tenha seguido o seu rumo. Os gestos diários a serem corrigidos. Um prato a voltar para o armário. O cheiro a ir embora e nós sem sabermos o que fazer com os destroços. Foi com isto que vivi durante muito tempo. Hoje, na companhia Dele, cheguem-se aqui. Deixa-me fechar os olhos e ver o vosso rosto. Agradecer-vos o Amor em que cresci, a delícia de ser tão amada, a maravilha de poder compartilhar a Vida e a paz com que agora me dirijo a Ti, mesmo que os foguetes me incomodem.

2 comentários:

fr disse...

Um beijo apertado

A disse...

Tão bom ter tido o privilégio de crescer com todo esse amor. Jocas miguita