terça-feira, 19 de maio de 2009

A quatro mãos

Desde pequeninas...o sonho. A ilusão do romance, do tal! Reconhecer ao primeiro olhar. O primeiro olhar, o primeiro momento, o primeiro beijo, os "primeiros". E de quem é a culpa????
A culpa é dos contos-de-fada contados à noite, das histórias "Era uma vez... e viveram felizes para sempre", da vontade de acreditar e da esperança injectada.
A culpa é dos filmes, do amor à filme, do amor cheio, fácil. Do guião que acaba sempre com o bouquet atirado. Do amor à serie "How I meet your Mother". Com copo de vinho a degustar.
A culpa é da vontade de querer mais, da certeza (?) de se merecer mais. Da vontade de questionar e da mania de se achar que não se é padrão, que não se quer amores "clichés".
A culpa é de querer dizer um nome falso mas mesmo assim ser descoberta no meio de bolos. A culpa é de querer esperar o momento e saboreá-lo, porque a seguir vem outro. A culpa é da loucura de uma noite que arranca todas as outras no amor que está a vir.
A culpa é dos muros criados à força de projectos a viver e conquistas a saborear. A culpa é dos sonhos a voar a solo, da vontade escondida de não se sentir nada e guardar em redoma o desejo de se querer sentir tudo. A culpa é do medo da luz vir a expor a insegurança e preferir ficar em terra.
A culpa é do sangue que corre, corre sempre em direcção a uma foz onde desejo, amor, calor se transforma numa só lava.
A culpa é de atirar para a frente a vontade, porque se tem sete vidas como os gatos e há que gastá-las todas, se necessário for, para o amor que vem aí. Para o tal.
A culpa é de querer partilhar a casa de banho com o fio dental a tirar todas as resistências à intimidade profunda.
A culpa é do fechar os olhos e decidir mergulhar. E que se lixe. Porque apetece e o desejo explode. A culpa é de saber que há momentos eternos mesmo que escorram entre os dedos. A culpa é da dor que se sente depois. Do amanhecer de nevoeiro que se adensou. A culpa é do reerguer o corpo e limpar a praia para continuar a caminhar e a procurar.
A culpa é do sabor, novo sempre novo, sem corantes nem conservantes mas com hidratos de carbono que são açúcares depois de engolidos.
A culpa é dos contos de fadas, das séries e dos amores à filme, numa qualquer terça-feira partilhada à frente do visor.
A culpa, - desculpa -, é do sentir os ponteiros a passar. Mais um gole.

3 comentários:

fr disse...

Mas que texto fenomenal! Um rasgo de genio literário! :)

$$$ disse...

Andamos a brincar com público, é???

fr disse...

Mas que é lá isto??? Então anda uma miúda a esforçar-se para escrever e escrever e depois só aqui é que comentam??? E o outro lado não tem público???